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Cuidados emocionais na cirurgia bariátrica

Vamos falar um pouco e tirar todas as dúvidas em relação aos cuidados emocionais que envolvem a cirurgia bariátrica. Negligenciar um acompanhamento psicológico, é dificultar a adesão a todo o procedimento que circunda as mudanças e alterações de vida de um paciente que fez uma cirurgia bariátrica. Fazer tudo sozinho e sem acompanhamento psicológico, é um grande risco, pois várias tentativas de emagrecimento, já foram realizadas por esse indivíduo, até chegar ao ato cirúrgico, em si.

Como deve ser a preparação emocional do paciente bariátrico?

Um paciente bariátrico deve ter uma avaliação adequada para que seja decidido o melhor momento, para a realização de um procedimento cirúrgico de tal natureza, tais como: dietas, restrição alimentar, aspectos depressivos existentes, grau de ansiedade, risco de suicídio, vícios em geral, hábitos atuais de vida, desejo de mudança, apoio familiar, genética, limiar de tolerância. Somente dentro de uma perspectiva abrangente, pode-se iniciar o preparo do paciente, para uma mudança total em seus hábitos de vida e, conscientizá-lo que a cirurgia só terá resultado, com sua total participação e disciplina. O número de sessões que antecede a cirurgia bariátrica, varia, de acordo com o profissional que acompanha o paciente e seus familiares. Atualmente, existe um protocolo elaborado por psicólogos associados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (COESAS) e aceito pelo conselho de psicologia (SP), propondo que todas equipes de cirurgia bariátrica tenham um psicólogo para acompanhar o processo que envolve esse procedimento.

Por que alguns pacientes apresentam complicações psicossociais, mesmo estando mais magros em melhores condições clínicas e funcionais?

Essas complicações tornam-se mais evidentes diante de um corpo emagrecido, os julgamentos se fazem presentes, e os olhares estão mais direcionados para ele. Mas, de fato, essas questões já existiam mesmo antes do procedimento cirúrgico. A dificuldade de um reconhecimento da autoimagem e da autoestima, independe de um corpo obeso ou magro. As complicações psicossociais se tornam às vezes frequentes, pela falta de argumentos e de desculpas, das quais o paciente anteriormente utilizava, para não ter que frequentar uma vida social ativa. Por isso, ele se torna foco de crítica e de questionamento

Qual risco sofre o paciente que negligencia um acompanhamento psicológico? 

Durante o XXI World Congress of International Federation for the Surgery of Obesity & Metabolic Disorders – IFSO 2016
Durante o XXI World Congress of International Federation for the Surgery of Obesity & Metabolic Disorders – IFSO 2016

Negligenciar um acompanhamento psicológico, é dificultar a adesão a todo o procedimento que circunda as mudanças e alterações de vida de um paciente que fez uma cirurgia bariátrica. Fazer tudo sozinho e sem acompanhamento psicológico, é um grande risco, pois várias tentativas de emagrecimento, já foram realizadas por esse indivíduo, até chegar ao ato cirúrgico, em si. Acontece que, normalmente, e por diversas vezes, as situações de fracassos, com a repetição do ganho de peso, marcaram a trajetória do paciente. Portanto, partindo do princípio de que a obesidade é uma doença crônica, da qual, o risco de recidiva de peso, é uma realidade, mesmo naqueles que já foram operados, é importante uma compreensão interna, que possibilite equilíbrio em relação à comida, ao ato de comer, à angústia e à ansiedade, acumuladas nesse processo. Podemos considerar sucesso pós-bariátrica, o paciente que consegue manter-se magro, ao longo da vida; saúde física, clínica, familiar, social, psicológica, sem os antigos hábitos nocivos, são uma sequência na conquista de um corpo e mente bem preparado para essa nova etapa que surge na vida. Não negligenciar um tratamento psicológico, significa reforçar a possibilidade de ser manter estável em todas as esferas ao longo dos anos, a partir da escolha cirúrgica de combate à obesidade.

A compulsão pode ser transferida para outros “vícios”?

Perceber que a gula, descontrole, inquietação, angústia, alteração de humor, agressividade, isolamento social, saídas exageradas para grandes baladas, com excesso abusivo de álcool, sexo, drogas, é a constatação de que novas compulsões estão aparecendo. Essa crítica torna-se difícil, quando o paciente se embriaga pelo prazer tudo o que isso lhe proporciona. Certamente há, com grande frequência, um deslocamento da compulsão alimentar. Um tratamento equivocado e mal-compreendido do que inclui essa transformação e, pode ser sentido, às vezes, pelo paciente, quase como uma abstinência alimentar. Isso, pode levar à busca de algo que possa aliviar essas angústias e sofrimentos internos, através de outros hábitos autodestrutivos, exatamente como era feito anteriormente, quando havia o excesso de peso. Assim, surge uma nova patologia.

Mesmo depois do estômago reduzido, o paciente pode voltar a engordar, por não controlar as compulsões?

Sim, essa possibilidade existe, pressupondo que a obesidade é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, como uma doença crônica. A cirurgia, por si só, não garante emagrecimento e manutenção do peso para sempre. Apenas o controle emocional, nutricional e clínico ligado as compulsões podem promover um novo, definitivo e saudável estilo de vida.

Como é o processo de adaptação à nova vida, sem sofrimento?

O sofrimento se faz presente, quando não há uma compreensão interna dos desafios dessa escolha, feita por um período de vida, do qual não havia mais possibilidades de estar satisfeito com o excesso de peso. Partindo do principio que a cirurgia bariátrica significa um marco na vida, o paciente pode trocar vários angústias e sofrimentos por atividades prazerosas, como vida fitness, novo visual, novos looks, novo padrão de beleza, novas paixões, novos sonhos, viagens, planos… Portanto, o sofrimento depende de como cada paciente vivencia uma escolha pessoal e, de como ele age a partir daí. Trata-se de sentimentos subjetivos, diante de tantos ganhos.

É possível que condições psiquiátricas prévias se agravem, ou até mesmo, novas doenças surjam, após a cirurgia bariátrica?

Embora, grande parte dos pacientes apresente melhoras em suas condições clínicas e funcionais, com menos risco de morte por doenças cardiovasculares, câncer e diabetes, etc, alguns, podem apresentar complicações psicossociais, tais como: alterações da autoimagem corporal, do traço de personalidade e com a presença de compulsão alimentar, prévios à intervenção cirúrgica. Esses, entre outros motivos, têm sido implicados na evolução e no prognóstico negativo de certos pacientes, como a compulsão alimentar periódica, complicação mais recorrente nos pacientes dessa cirurgia. O novo estilo de vida alimentar e comportamental leva à uma ansiedade, que pode acarretar um processo depressivo, às vezes subestimados após a cirurgia. Se enxergar magro, pode se transformar em um problema de distorção da imagem corporal, pois operou-se o estômago, mas não, as doenças psíquicas, que já antecediam a cirurgia bariátrica. Por isso, vários fatores podem surgir ao longo da vida, independente do processo cirúrgico.

A cirurgia bariátrica pode tornar uma pessoa mais feliz?

Acredito ser esta a grande motivação para o crescente número de pessoas que procuram a cirurgia bariátrica. Aderir a novos hábitos e tratamentos propostos, possivelmente leva o individuo a uma qualidade de vida literalmente plena, com saúde, realizações e novos projetos de vida. Saber escolher o melhor caminho, é a grande sabedoria de cada indivíduo, o resultado do nosso presente e do nosso futuro. Então, por que não iniciar esse processo, através de uma cirurgia bariátrica? Ser feliz é possível!

Entrevista concedida para Aurélia Guilherme em seu blog Boa Vida Online.

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