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As mães do home office

As mães do home office

De volta em casa, mulheres relatam o resgate da conexão com os filhos e estabelecem um novo olhar para o trabalho.

É imperativo que as crianças que estão afastadas das escolas e os pais em teletrabalho criaram juntos, uma nova dinâmica de vida e trabalho nesse momento de pandemia imposto no mundo todo. Enquanto os pequenos curtem o momento, sem entender ao certo a sua gravidade, os pais acumulam funções e descobrem uma nova relação com a família e a profissão. As mães, protagonistas na criação dos filhos, relatam que, embora tenha sido difícil no começo, o dia-a-dia de volta em casa tem se mostrado surpreendentemente gratificante.

É o que tem vivido a arquiteta Lia Galera, 31, grávida de seis meses e mãe de um menino de 2 anos de idade. Desde o dia 16 março ela foi encorajada pela Brasal Incorporações a realizar seu trabalho através do home office por estar no grupo de risco de complicações no caso do contágio pelo novo coronavírus, que provoca a Covid-19. Há um ano trabalhando com expediente fixo, Lia deixava o filho parte do dia na escola, outra parte com a babá e só o via a noite e tinha uma rotina muito regular.

Ela conta que no começo do isolamento social, o medo, a imprevisibilidade e o fato de ter que ficar em casa foram perturbadores, mas serviram para dar a ela um tempo precioso com o filho. “Eu percebi coisas que ele fazia, palavras que ele já falava que eu não conhecia. Isso me fez enxergar o quanto nós dois estávamos precisando de ficar juntos”. Os primeiros 30 dias foram apenas ela, o filho e o marido com saídas mínimas. “Ele é uma criança tranquila, calma e isso facilitou pois se adaptou muito facilmente. Na verdade ele comemora todo o tempo por me ter em casa”.

Para acertar o passo nas duas funções,  ela instalou os equipamentos do trabalho em casa e estabeleceu uma rotina que permite cuidar do filho e do trabalho. “Levanto no horário de sempre, me arrumo como se estivesse indo para o trabalho. Quando ele acorda, um pouco depois, faço a mamadeira e coloco ele brincando. Ele entende que precisa me deixar trabalhar, às vezes senta próximo a minha mesa e fica brincando do meu lado. Esse momento é muito gostoso”, detalha Lia.

A relação do pai com filho também se transformou segundo a arquiteta. “Passarmos tanto tempo juntos sós nos fortaleceu. Eu sempre fui muito caseira, gosto de voltar para casa, aproveitar minha família, acabei retomando esse sentimento”. Preparada para um longo período em casa, já que não deve retornar ao expediente no escritório antes do segundo filho nascer, Lia acha que vai mesmo é sentir saudade. “Quando precisei retornar ao trabalho depois do nascimento do meu primeiro filho, passei por todo o estresse do desmame, do afastamento, quero aproveitar muito esse momento que estamos juntos novamente. Ser mãe é sempre uma prioridade”.

Uga Duarte Ribeiro, de 38 anos vive uma situação muito semelhante a de Lia. Também grávida de 32 semanas, passou a realizar o teletrabalho em meados do mês de março e diz que passa por um momento de reencontro com a maternidade. Analista de recebíveis da Consciente Construtora, conta que o filho de três anos foi para o berçário aos seis meses quando voltou ao trabalho depois da licença maternidade. “É uma novidade para todos nós e tem sido uma oportunidade única de estarmos mais próximos. A rotina do dia a dia exige um pouco mais de todos e conversei com ele,  expliquei como seriam nossos dias entre família e o porquê. E compreendeu, mas precisamos estar mais disponíveis tanto para as brincadeiras como emocionalmente pois é um período que tem deixado a todos nós mais necessitados de atenção”, declara.

Uga busca apoio no marido que também está em isolamento com ela e o bebê e em leituras que cultivem a serenidade e a estabilidade emocional. Para isso, lança mão da internet que além de ser a ferramenta de trabalho, também é usada para os encontros virtuais da família. “São dias intensos, tanto na demanda de nossas atividades profissionais quanto na demanda com nosso filho. Chegamos todos ao final do dia exaustos, mas tem sido gratificante e reconhecedor do porquê nos escolhemos como família”, pontua.

Como nunca tinha trabalhado em home-office, Uga conta que foi um desafio conciliar todas as demandas, mas no fim, ela percebeu que é possível e muito agradável.  “O convívio tem sido harmonioso”, finaliza.

As histórias de Lia e Uga resumem o que a psicóloga Soraya Oliveira, que atende no Órion Complex, classifica como um momento para reaprender os valores que foram roubados pela rotina do dia a dia. Segundo ela,  ter filhos foi uma escolha, mas as atribuições desse papel tão importante, acabou sendo terceirizado em boa parte. “As mães estão fazendo aquilo que já deveria ter sido feito lá atrás que é estar presente na educação  e na disciplina das atividades diárias de forma intensa”.

A psicóloga lembra também, que esse convívio forçado com a família reativou os laços com aquilo que realmente importa. “O que podemos perceber de uma maneira geral, é que se quebrou o apego às futilidades e as pessoas estão gastando seu tempo com coisas necessárias e com quem realmente interessa em um contexto familiar de mais amor”.

Para Soraya esse será um dia das mães mais rico, pois as crianças tiveram a oportunidade de ter novamente o convívio com os pais. “Nem tudo na vida é programado e quem sabe podemos recuperar e manter tudo isso, mesmo depois que acabar a pandemia?”, provoca.

A gestora de marketing do Grupo Toctao, Joyce Furtado, 38, encara esse novo dia a dia com dois bebês, um de 1 ano e quatro meses e outro de 5 anos, com rotinas muito diferentes um do outro. Em home office há cerca de 40 dias, enquanto o mais novo ainda está na fase de amamentação,  o mais velho já encara as vídeo aulas oferecidas pela escola para o período de quarentena. “Minha rotina ficou muito mais pesada. Levanto mais cedo para responder e-mails e dar início ao expediente, e encerro mais tarde, para dar conta das demandas da casa, dos filhos e do trabalho”, conta  Joyce que  está em home office ao lado do marido que também cumpre expediente em casa.

Joyce vive uma  realidade comum para quem vive nos grandes centros urbanos. Como sempre trabalhou fora, assim que as licenças maternidades encerraram, as crianças foram para berçários parte do dia, e no caso dela, ainda puderam desfrutar dos cuidados de uma das avós.   Com toda vida corrida, ela relata que nem mesmo dos períodos férias, a família teve oportunidade passar tanto tempo juntos. “Apesar do cansaço e da correria, ficar mais tempo em família e com as crianças está sendo ótimo. estamos repensando a forma de trabalho e de convívio com as pessoas acho que igual antes nunca mais vai ser”, diz ao lembrar da felicidade das crianças, principalmente o mais velho, que se adaptou facilmente à nova rotina. “Para o caçula a diversão é sentar no nosso colo para ver na telas as outras pessoas que estão nas conferências, tanto minhas como as do meu marido”.

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Isolamento muda perspectiva do pai sobre a criação dos filhos

Psicóloga conta que os chefes de família foram surpreendidos com jornada tripla e lançaram novo olhar sobre as atividades domésticas . Perfil varia entre os que aproveitaram o momento e aqueles que desencadearam ansiedade.

O Dia dos Pais de 2020 será lembrado sempre como aquele do ano da pandemia, quando o distanciamento social impôs às famílias uma convivência intensa. Pais e mães adotaram o modelo de trabalho de home office e as crianças passaram a ter aulas por meio do ensino à distância (EAD).  A Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19,  elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA) com dados de abril, mostrou que 46% das empresas mantiveram seus funcionários em casa. Embora a mudança de rotina tenha sido árdua para todos os membros, o papel do homem foi o mais afetado. É no que acredita a psicóloga que atende no Órion Complex, Soraya Oliveira. Ela conta as experiências ouvidas em seu  consultório sobre o isolamento.

A especialista lembra que, historicamente o homem assume o papel do provedor da família, aquele que sai de casa cedo e retorna no fim do dia, enquanto as mulheres sempre assumiram o papel de cuidadoras da família. Para Soraya essa cultura ainda está muito enraizada no Brasil, e, mesmo com as sutis mudanças na era moderna, o homem quando se viu em casa precisando fazer também atividades domésticas e cuidar dos filhos, ele acabou despertando seu olhar para essas atividades, até então delegadas apenas a elas. “O pai que já tinha um histórico afetuoso, soube aproveitar esse momento para reforçar os vínculos e dar aos filhos aquilo que eles eram impedidos de oferecer por passar o tempo longe, como brincar, ver televisão, jogar um videogame, ler”, pontua.

Os  dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), que analisa números do IBGE,  mostram que os 59% das casas brasileiras tem o homem como responsável por sustentar financeiramente o lar. Isso mostra um comportamento ainda muito tradicional no País, onde as mulheres são responsáveis por educar os filhos e os homens ficam livres da jornada tripla . “Os pais  estão mais habituados com as relações externas, com divertimento fora de casa, mas é com o convívio que descobrimos o outro, suas preferências e gostos. Quando foram para casa, perceberam que estavam distantes dos filhos e passaram a dar valor a coisas que antes eram banalizadas, como por exemplo, o tipo de indivíduo que estão educando para o mundo”, diz Soraya. Os desafios, explica a psicóloga, independem da idade dos filhos. “É importante pensar que foram muitos comportamentos diferentes, já que a quarentena se estendeu mais do que imaginávamos, até mesmo as crianças e adolescente tiveram que se adaptar com a figura masculina em casa”.

Embora muitos pais se redescobriram com o distanciamento social,  Soraya explica que  houve uma divisão clara entre aqueles que aproveitaram a situação para se conectar com os filhos, e os que tiveram grandes problemas de ansiedade. “Um segundo grupo de pais  demonstrou alteração forte de humor chegando até mesmo a atos de agressividade com violência física e moral,  impaciência, irritabilidade e frustração”. Para a psicóloga esses homens encararam com mais dificuldade o fato de estarem se sentindo fechados e não souberam lidar com a nova realidade de vida. “O resultado disso foi o grande número de divórcios que está tendo no mundo”, exemplifica.

Segundo Soraya, a adaptação foi mais complexa para esse grupo pois são pessoas que ainda vivem apegadas a uma cultura onde homens não executam tarefas domésticas nem educam os filhos pessoalmente do dia-a-dia. “Os pais tiveram que se posicionar melhor diante da escolha feita ao casar. Foram forçados a aprender a conviver e valorizar o papel da mulher e se tornar pai, esposo, companheiro e amigo”.

 

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Estabelecer rotina é o caminho para manter a saúde mental no isolamento social

Depressão, Transtorno Obsessivo Compulsivo, síndrome do pânico e transtornos alimentares podem ser desencadeados durante a pandemia

Em pouco mais de cinco meses, desde que a pandemia pelo novo Coronavirus surgiu em Wuhan, na China, epicentro do vírus, todo o planeta ficou tomado por notícias de aumento de pessoas infectadas e mortes pela Covid-19. Imagens de caminhões frigoríficos levando os corpos na Itália e nos Estados Unidos impactaram toda humanidade. Com isso, medo do desconhecido e a exigência de ficar em casa, podem ser gatilhos para transtornos psicológicos como depressão, transtorno obsessivo compulsivo ou síndrome do pânico. Para avaliar o impacto psicológico da quarentena, a editora especializada em medicina Brooks e cols (2020) revisou 24 artigos relacionados a surtos ou epidemias entre 2004 e 2019. A maioria dos estudos indica efeitos psicológicos negativos como sintomas de estresse pós-traumático, sintomas depressivos, tristeza, abuso de substância, estado confusional e irritabilidade.

Segundo levantamento, os fatores que causam o estresse vão do próprio estado de quarentena, alteração dramática na rotina, restrição da mobilidade, medo de ficar doente, frustração, tédio, suprimentos inadequados, informação limitada, perdas financeiras e estigma. A psicóloga Soraya Oliveira, que atende no Órion Complex, recomenda estabelecer uma rotina dentro do processo de isolamento social ou quarentena, como ter horário para acordar, comer e trabalhar, para garantir maior estabilidade mental.

Para ela, apesar de a pandemia ser passageira, tendo em vista a experiência da China, a situação é de angústia, porque ninguém sabe se será acometido pelo vírus ou se algum parente será. Soraya lembra que estar permanentemente em casa é uma novidade para muitas pessoas que estão habituadas a sair cedo e voltar apenas à noite. “Ao estar em casa, a pessoa entra em contato com emoções que há anos não entrava. Além dos próprios sentimentos, tem o medo da doença e a hiper convivência com os demais membros da família”.

“O mais comum é que as pessoas ficarem mais tempo juntas aos finais de semana, mas ainda assim, sempre com programações. Gostamos de ir ao shopping, lanchar, fazer churrasco na casa de amigos. Com todo mundo em casa, as relações estão muito próximas e os conflitos são inevitáveis, por isso, as pessoas questionam as relações. Prova disso é que depois da onda do coronavírus na China, aumentou significativamente o número de divórcios no país”, explica.

De acordo com a psicóloga, um quadro de depressão pode se apresentar de diversas formas, mas é comum o entristecimento em si. “É parecido com uma preguiça, mas não é! São sintomas depressivos que começam a dar sinais, por exemplo, de repente a pessoa não sente mais vontade de tomar banho, lavar o cabelo; acorda e passa todo o dia de pijamas, não escova os dentes. A casa começa a ficar sem cuidados e a desorganização externa reflete a desorganização interna”, reitera e complementa “as pessoas que relatam depressão sentem desamparo, tristeza, medo da morte e os pensamentos negativos vão tomando uma proporção bem maior que os otimistas.”

Além da depressão, outros transtornos psicológicos também podem ser evidenciados durante a pandemia do novo coronavírus, como o TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo. “As pessoas estão obcecadas por álcool em gel e por lavar as mãos. Não que isso seja errado, pelo contrário, mas traz o efeito psicológico”, explica. De maneira semelhante, a Síndrome do Pânico pode ser mais recorrente devido ao nível de ansiedade da população. “Cada vez que vai subindo o número de pessoas infectadas e óbitos, de alguma maneira, as pessoas vão entrando em pânico, porque percebem que a doença está chegando perto. Não será incomum você ficar sabendo de uma pessoa que morreu. É isso que gera ansiedade e provoca depressão”, reforça. A compulsão alimentar também é um reflexo da pandemia e vai muito além de memes nas redes sociais. “É real! As pessoas estão ganhando peso, porque veem na comida e na bebida uma forma de distrair a angústia”, diz Soraya.

O que fazer?

Soraya Oliveira defende que estabelecer uma rotina dentro do processo de quarentena é um excelente caminho para manter a saúde mental. “Do ponto de vista psíquico, a rotina é estabilizadora. Por isso, é importante que a as pessoas tenham horário para acordar, para comer e para dormir. É importante desenvolver uma rotina de atividade física, seja alongamento, meditação, ioga e isso independe da idade”, recomenda. Outra orientação que faz parte da rotina é ter uma boa alimentação, “as pessoas ainda estão achando que estão em férias, bebem e fazem churrasco! É interessante entender que estamos em casa nos proteger do vírus.”

Além de estabelecer uma rotina, a profissional recomenda que as pessoas equilibrem o quanto consomem de informações, assim, checar as notícias uma vez ao dia é suficiente para não gerar ansiedade ao ver o número de pessoas infectadas pela Covid-19. “Gostaria de pedir que as pessoas ergam a cabeça. Iremos vencer esse vírus com o enfrentamento! O coronavírus veio silenciar o mundo e nos colocar de pé de uma maneira mais humana. Não vamos sair ilesos disso, na verdade, acredito que vamos priorizar a vida, o ser humano e, sobretudo valorizar as pessoas que a gente ama. O enfrentamento é a melhor forma de seguir.”

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